29 de novembro de 2005

RIO

Ao contrário do que o resto do país parece acreditar, o Rio continua lindo.
A baía de Guanabara brilha, azul, os morros desfavelados estão verdes e o povo continua mais bonito que o resto do mundo.
Claro que eu circulo pela zona Sul. Desconfio que a Norte a coisa será menos colorida.
Mas com prudência, ainda podemos deixar cair o queixo de admiração.

23 de novembro de 2005

Bush perdoa perus e os envia em viagem para Disneylândia

Palavras para quê...? É o presidente mais estúpido do mundo, eleito pela maioria dos americanos... (pelo menos os da Flórida)

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WASHINGTON (Reuters) - Foi um sonho tornando-se realidade para Marshmallow e Yam, dois perus sortudos da cidade de Henning, Estado de Minnesota, Estados Unidos.
O presidente do país, George W. Bush, os poupou de se tornarem o prato principal no jantar de Ação de Graças e, para completar, enviou os dois para uma viagem com tudo pago para a Disneylândia.
"Eu sei que Marshmallow e Yam sentirão-se muito bem caminhando pela ensolarada Califórnia e se lembrando dos dias frios em Minnesota", disse Bush ao comparecer a cerimônia anual de perdão ao peru ao lado de seu vice, Dick Cheney.
"A concessão do perdão a um peru não é uma responsabilidade que eu levo na brincadeira", acrescentou Bush.
O presidente acrescentou que os perus foram batizados com seus nomes depois de uma "eleição nacional" no site da Casa Branca. "No final, os eleitores fizeram sua escolha, e foi uma eleição apertada. Vocês podem dizer que foi pescoço a pescoço", disse.
Marshmallow foi designado o peru nacional de Ação de Graças na cerimônia. Já Cheney abriu um largo sorriso enquanto o tratador do peru de 16,8 quilos o colocava em cima da mesa.
Yam, o peru alternativo nacional, foi nomeado apesar de não estar presente. O dia de Ação de Graças ocorre será em 24 de novembro.
Nos últimos 15 anos os perus sortudos o bastante para receber o perdão presidencial eram enviados ao Frying Pan Park, em Virgínia.
Mas Marshmallow e Yam, em vez disso, viajarão para o ensolarado sul da Califórnia e terão uma aposentadoria de estilo na Disneylândia, em Anaheim. Eles terão lugar de honra do desfile de Ação de Graças do parque temático.
"Marshmallow e Yam ficaram um pouco céticos em irem para um lugar chamado Frying Pan Park (em português algo como Parque da Frigideira)", disse Bush. "Eu não os culpo."
O grupo de defesa dos direitos dos animais People for the Ethical Treatment of Animals (Peta), pediu a Bush que não enviasse as aves poupadas ao Frying Pan Park, local em que, segundo o grupo, as aves morrem por negligência ou por más condições de vida.
ESCULHAMBAÇÃO
Creio que também se pode escrever com "o", dada a origem, a minha palavra nova favorita. Não tenho outra melhor para descrever o que meio mundo tenta fazer com o outro meio. Os políticos esculhambam com o povo (que é a gente), os "pastores" e padralhada em geral, esculhamba o povo (e as finanças, já de si depauperadas, do mesmo) e esculhambam o que restam dos nossos neurónios todos os que tentam encontrar explicações para o mundo e formas de ganhar fama, fortuna e felicidade a tempo inteiro. Ora se fossem esculhambar a mãe deles... O que me conduz à minha segunda palavra favorita: Sacanagem.
Mas sacanagem ficará para outro dia...

21 de novembro de 2005

NO FUNDO DO MAPA

Parece mentira, mas cheguei ao fim do Brasil. Do alto do Maranhão, até ao Rio Grande do Sul. A deslizar, aos ésses, pelo mapa abaixo. A descobrir os Brasis.
Desconfio que Porto Alegre vai ser a minhas ruína, com os seus sebos (alfarrabistas) maravilhosos, as praças cheias de árvores e uma variedade gigante de churrascarias. Além das ruas largas para passear.
Está calor (perto de 30 graus). Em Portugal, toda a minha gente bate o dente de frio. Aqui a canícula.
Em cadernos espalhados, um romance que progride em velocidade de cruzeiro. E isso, para mim, não é um detalhe ;)

20 de novembro de 2005

LIVRO DE CRÓNICAS

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Já se encontra distribuido o meu último livro. Crónicas, neste caso, publicadas em vários jornais e revistas. As que me pareceram melhores. Repito, pareceram.
O MEU QUERIDO TITANIC, é isso mesmo, como o nome indica, uma reflexão optimista sobre Portugal e sobre nós próprios.
Mais informações no site da oficina (www.oficinadolivro.pt), favor saltarem tudo o que for flor e irem directos ao livro.
... E 2

"Dentro do envelope estavam as passagens aéreas, bilhetes de ida e de volta, um talão de cheques de vinte folhas tinindo de novo, um álbum de fotografias do casalzinho de namorados, e a série de documentos originais dos quais o banco exigira cópia. Só isso. Um contratempo de lascar! (...) Acenei para um táxi que passava e disse ao motorista a famosa frase do cinema americano: siga aquele carro!, ou melhor, ônibus! E assim fomos até alcançar o coletivo parado no fim de linha de Luís Anselmo, vazio de passageiros.Não, ninguém deixou com eles envelope algum. Não, ninguém viu moça alguma falar de envelope esquecido com ela. Não, ninguém lembrava de uma morena bonita com envelope amarelo e livros nos braços. Entrei no ônibus e constatei que não, não havia nenhum envelope abandonado sobre o banco.
Foi uma manhã difícil, dividida entre providências para obtenção de novas passagens (...)cancelamento e obtenção de novo talão de cheques, e as tarefas típicas de uma manhã em assessoria de imprensa. Lá pelas onze horas recebi um telefonema da gerente da minha agência bancária. Pensei: o talão está pronto.
Não, não era o talão. A bela morena estava lá, na agência, com certo envelope amarelo nas mãos, a procurar por mim. Encontrei-me com a morena meia hora depois. Ambos, felizes, por motivos diferentes. Conferi o conteúdo do envelope. Ela me disse não mexi em nada, está tudo aí, como o senhor... é... você deixou. Quis recompensá-la financeiramente e ela recusou. Na verdade, esticava a conversa e mantinha um sorriso permanente no rosto..."

E paro aqui a transcrição, por razões que a decência, o decoro e sem-vergonhice dos deuses pedem... ;)
SACOLAS 1

Sobre o hábito dos brasileiros ajudarem quem viaja de pé nos "ónibus" carregando os sacos, recebi do meu amigo e escritor Carlos Barbosa um relato. Por questões de espaço, reproduzo apenas alguns excertos,pedindo desde já perdão pela edição apressada.
Sobre a história... se é verdade, não sei. Só sei que foi assim:
"Sexta-feira seria dia dos namorados. Minha namorada morava na Baixada Santista, litoral de São Paulo. Amanheci a quinta-feira decidido a curtirmos juntos aquela data e um fim de semana especial(...)Durante o dia, adotei providências para aquisição de passagens aéreas, retirada de talão de cheques ? estávamos nos anos 80, do século passado ? e revelação de fotos da última viagem(...) Dei por encerrado o expediente lá pelas 22:00 h. Fui a pé até a estação da Lapa e tomei o ônibus coletivo para minha modesta Vila Laura.Como sempre, viajei em pé no interior de um lotado coletivo, entonado em um absurdo terno para o calor de Salvador.
Foi então que bela morena se ofereceu para levar no colo o gordo envelope que prendia desajeitado debaixo do braço. Era estudante, pelos livros que conduzia. Entreguei o envelope à moça e a imaginação aos prazeres que me aguardavam mais ao Sul na noite seguinte. E assim transcorreu a viagem, a subir e a descer ladeiras, o motor do ônibus reclamando alto do esforço dele exigido para vencer tamanhos aclives. Saí do devaneio ao avistar o mercadinho que marcava meu ponto de descida. Acionei a campainha e me adiantei no corredor, descendo leve e fagueiro tão logo o ônibus parou no ponto.Ao me aproximar do edifício em que residia, lembrei-me do envelope. Meu coração disparou. O envelope havia ficado com a moça no ônibus! Subi a ladeira correndo, aflito. Ao chegar no ponto onde descera ainda pude ver a traseira do ônibus sumindo-se na curva da rua, uns trezentos metros adiante...

19 de novembro de 2005

A IRRELEVÂNCIA

Dos locais onde passo (e que têm tv por cabo, que são tão escassos como o meu orçamento...), das visitas aos jornais da net, chega-me a confirmação do que eu já sabia: Portugal tornou-se irrelevante. As notícias são de caca. Os políticos são de caquinha. Os grandes desígnios nacionais têm a dimensão de um monte de beatas na paragem do eléctrico (enfim... talvez um pouco menos, o exemplo peca por excesso). A nossa europeização trouxe-nos as estradas, as roupas decentes, a subida da escolarização e, claro, o sonho consumista. Mas levou tudo o que tínhamos de interessante. Ou quase tudo, se a comparação for com outros países da mesma Europa moribunda.

OUTRAS COISAS QUE SÃO O MESMO

No Alto Xingu os índios assistem aos jogos de futebol, via antena parabólica. As camisetas da selecção a substituir as pinturas antigas. Mais um esforço da civilização e integrarão o cortejo dos periféricos.

No Pantanal discute-se sobre a instalação de usinas de álcool, poluentes e que trarão consigo as ininterruptas filas de camiões. Em breve não haverá mais animais. Só campos vagamente arborizados ao lado de estradas cada vez mais desertas.

No Balneário Camboriú, Santa Catarina, os mesmos prédios que destruíram o Algarve. Com a diferença que aqui ainda estão a nascer à força toda. E nem esperança de pararem a sua reprodução monstruosa. Se o mar se retirar, ofendido, não estranhem.

Tenho de telefonar para uma das igrejas (dos milhares de...) que negoceiam directamente com Deus e pedir-lhes que perguntem ao Divino por que se dá Ele/a ao trabalho de fazer tudo isto devagar... Não seria melhor fazer aparecer um cilindro gigante que reduzisse a originalidade humana a pó? criar um piso de único de terra batida no Globo?

18 de novembro de 2005

AO SUL

Não sei se foi de ter sido levado logo para o Pântano do Sul. Acordar estremunhado, um autocarro que se adiantou (já de si, estranhíssimo), um café açucarado... os amigos que aparecem ainda de cabelos no ar e nos abraçam. Depois o carro pela estrada verde em direcção ao Sul. Deve ser por tudo isso que os Açores me vieram logo à cabeça. Nas caras das pessoas, no sotaque, no verde que se espalhava pelas colinas. Por todo o lado, marcas toponímicas desse povoamento. E por fim, a baía enorme, perto do local onde as baleias vinham procriar.
Em tempos, imaginei (em O MAR POR CIMA) que existiria um canal, formado por uma corrente secreta, entre duas ilhas. Hoje sei que existe. E liga o arquipélago dos meus anos verdes ao pé descalço do Brasil.
Ainda bem que cá vim.

16 de novembro de 2005

CARAS
Numa sorveteria de Santa Catarina descubro uma revista CARAS. A versão brasileira é tão cretina como a portuguesa. E os repolhos que lá aparecem foram adubados com o mesmo cocó de vaca.
Ana Maria Braga, a apresentadora cantante vinha lá. Estava com um ar quase tão feliz como esta manhã quando contava ao papagaio: "Sabe como se chama um português inteligente?" "Noooummm...", "Turista!. Foi um fartote de riso. Vê-se que não tem viajado pelo Nordeste, nem tem tomado conhecimento do nome do país que mais tem investido no Brasil nos últimos tempos. Enfim, louras. E fora de prazo, ainda por cima. Mas a CARAS gosta.

PS: Um baiano amigo chamaou-me a atençao para a perda de compostura do que acima ficou escrito. Tem razao (nao acho os tils, aqui no Pântano do Sul, deve ser da chva...). Erro meu. Mas a loura e a porra do papagaio abalam os nervos de qualquer um. Quanto mais... nervos de português ;)

11 de novembro de 2005

NIEMEYER EM SÃO PAULO

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Memorial da América Latina-Átrio do Auditório (SP)
PRÉMIO

mesmo à distância, não posso deixar de reproduzir (com as devidas vénias autorais) esta foto, publicada hoje no Público.
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"Um Sadhú (homem-santo indiano) com pasta de sândalo na fronte depois de um banho madrugador no rio Sangam"

E de lhe atribuir, a título pessoal, o prémio A FOTO MAIS ESTÚPIDA E SEM INTERESSE 2005.
Parabéns aos editores pela escolha.

10 de novembro de 2005

COISAS BRASILIS

Levo desta viagem várias lições. Sendo que a primeira é a de que se pode viver uma vida mais generosa.
A Europa está velha. Uma velha senhora que aprendeu com os erros e por isso se tornou um dos locais mais seguros de viver. Sem ter a decadência dos Estados Unidos que nos oferece de bandeja a visão do fim de um império, o nosso continente perdeu algumas qualidades da juventude. A primeira, a possibilidade de se surpreender e maravilhar com o desconhecido. A segunda, a capacidade de acreditar na bondade.
Aqui, no Brasil, tenho sido recebido como um amigo. Por razões que não têm nada a ver com o maior ou menor grau de sucesso do meu trabalho. Apenas porque fui apresentado como um amigo de um amigo. E gostaria de pensar que nessa apresentação ia incluída a expressão "um homem de bem".
Quem em Portugal continua a receber de forma continuada gente desconhecida, apenas porque está de passagem e precisa de dormir ou comer? Quem faz tudo o que pode para ajudar sem pedir nada em troca? Quantos de nós?
Hoje, no autocarro/ónibus uma pessoa sentada voltou a oferecer-se para me segurar no colo a mochila, para que eu viajasse de pé com mais conforto. Quando agradeci, limitou-se a dizer "de nada", quase surpreendida pela minha gratidão. Esta é uma prática comum em todas as terras por onde passei.
Levo desta viagem a certeza de que se pode viver com pouco e ainda partilhar com os outros.
Enquanto europeu, estava a ficar esquecido disto.
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8 de novembro de 2005

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Caros amigos, chamo a atenção para o encontro de amanhã na USP, convite amável do Centro de Estudos Portugueses da referida universidade. Falaremos do meu trabalho, desta viagem pelo Brasil e de tudo o que a informalidade e o interesse sugerirem.
No edifício de Letras, sala 266, 14 h.
ps: Não trazer terno, gravata ou perguntas difíceis, por favor...
EX VOTOS - Salvador (BA)

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NIEMEYER - IGREJA DE SÃO FRANCISCO (BH)
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Sorveteria de Salvador

7 de novembro de 2005

SÃO PAULO
A gente sempre imagina as coisas. Até as cidades. Antecipamos a sua dimensão, a forma dos prédios, a dificuldade em navegar no seu interior.
E no fim, as coisas são sempre diferentes.
S.Paulo também. Surge grande e metropolitana como se pensava. Como Londres ou Paris.
Só que mais quente. Com brasileiros dentro em vez de franceses. O que, sem querer desmerecer mes amis, me parece bem mais interessante.
Em S.Paulo recupero o olhar das minhas personagens em construção. E foi fácil saber onde elas passaram, o que viram e sentiram...

3 de novembro de 2005

OURO PRETO

Uma coisa é certa: os nossos antepassados comuns deveriam ter uns músculos de perna capazes de impor respeito. Ouro Preto edifica-se sobre colinas íngremes. Na verdade, desconfio que as igrejas foram puxadas inteiras lá para cima com cordas, antes de ficarem em equilíbrio durante séculos.
O conjunto monumental é impressionante. Mais uma vez seria difícil encontrar no país-origem igrejas tão bem construídas ou tão ornamentadas. Afinal, nem todo o ouro fez a triangulação histórica em direcção a Inglaterra. Uma boa parte ficou por cá, colada aos altares e à decoração das capelas. E ainda bem.
As estátuas do Aleijadinho impressionam sobretudo pelo olhar. Não é preciso ser vidente para reconstituir o rosto do artista. Ele repete-se imagem após imagem. O mesmo olhar cansado e descrente. A mesma decepção com a vida terrena. Até a pose distorcida de muitas figuras nos remete para o seu autor.
Outro problema de Ouro Preto é a comida: é boa de mais. A comida mineira em todo o seu esplendor. Do feijão tropeiro aos assados, da galinha caipira a... sei lá a quê! A tudo.
Nossa senhora das dietas me proteja.
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1 de novembro de 2005

BELO HORIZONTE

Chegar de autocarro/ónibus tem algumas vantagens. Como as distâncias entre as cidades são medonhas, tudo medido em milhares de quilómetros, o corpo moído pelos buracos das estradas vai-se habituando à paisagem. Acontece que voei de Salvador até à capital de Minas Gerais.
Aí entra a imaginação. A ideia do solo revolto em busca dos minérios tinha criado no meu espírito a ideia de ir encontrar um terra plena de elevações (o que é verdade) mas árida. Despida de vegetação. Ora foi uma surpresa quando o avião se começou a abeirar da terra e o verde das colinas se meteu a cobrir tudo. Chovia, ainda por cima, o que fazia um contraste interessante com o calor da Bahia.
Belo Horizonte faz-me lembrar Lisboa. Talvez seja pelos jardins, ou pela mistura de prédios dos anos 50 com outros acabados de construir. Ou pelas avenidas largas que remetem para a Av. da Liberdade ou para a Fontes Pereira de Melo. Cidade tranquila onde a gente se sente em casa, portanto.
Claro que com a minha perícia na interpretação de mapas ainda não consegui ver grande coisa, ocupado em dar voltas e voltas ao mesmo quarteirão;;;
(suspiro)

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